“Jumento Celestino” e as migrações internas

Estratégias de ensino-aprendizagem

As migrações internas são retratadas em várias músicas, dessa forma, utilizar uma canção dos Mamonas Assassinas em sala de aula poderá chamar a atenção dos alunos.

As migrações obedecem, sobretudo, a fatores econômicos

As migrações internas são fluxos migratórios realizados dentro de um mesmo território. Quando se fala em “fluxos migratórios”, fala-se de tendências gerais com relação aos movimentos e deslocamentos da população. Tais movimentos não ocorrem de forma aleatória e obedecem, geralmente, a fatores sociais, econômicos e, por vezes, culturais.

No Brasil, tal lógica não é diferente. Os fluxos migratórios foram bastante intensos e os seus vetores tiveram diferentes direções conforme o contexto histórico e econômico de cada época.

Na década de 1970, houve uma intensa migração de habitantes da região Sul do país para a região Norte, sobretudo para a implantação da agricultura e da pecuária. Entretanto, esse fluxo foi perdendo força. Outro movimento populacional bastante intenso é o de moradores de todas as regiões para o Centro-Oeste, que vem registrando taxas migratórias cada vez maiores.

No entanto, o principal fluxo migratório no Brasil se deu da região Nordeste para a região Sudeste. Esse deslocamento se deveu, sobretudo, a fatores econômicos, em que houve uma concentração produtiva, econômica e industrial do país nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, tudo isso associado ao declínio econômico da região Nordeste.

Esse fluxo ocorreu, principalmente, a partir do final do século XIX e ao longo de todo o século XX. Entretanto, pode-se observar, atualmente, mesmo com o prosseguimento dessas migrações, que ocorreu um fluxo inverso do Sudeste para o Nordeste. Essa inversão é chamada de “retorno”, pois caracteriza a volta da população nordestina para o seu local de origem.

Em sala de aula, para retratar essa realidade, o professor pode utilizar uma música bem-humorada da banda Mamonas Assassinas, intitulada “Jumento Celestino”. Aparentemente pouco indicada para ser usada em sala de aula por apresentar palavrões e termos chulos, essa música pode ser bem aproveitada em virtude de sua receptividade junto ao público jovem. A letra dessa canção retrata um caso de um nordestino que foi se aventurar em terras paulistas:

(De quem é esse jegue?

De quem é esse jegue?

De quem é esse jegueee... Ô rapaz!

Não é jegue não, é jumentio!)

 

Tava ruim lá na Bahia, profissão de bóia-fria

Trabalhando noite e dia, num era isso que eu queria

Eu vim-me embora pra "Sum Paulo",

Eu vim no lombo dum jumento com pouco conhecimento

Enfrentando chuva e vento e dando uns peido fedorento (vish burro)

Até minha bunda fez um calo

Chegando na capital, uns puta predião legal

As mina pagando um pau, mas meu jumento tava mal

Precisando reformar

Fiz a pintura, importei quatro ferradura

Troquei até dentadura e pra completar a belezura

Eu instalei um Road-Star!

 

Descendo com o jumento na mó vula

Ultrapassei farol vermelho e dei de frente com uma mula

Saí avuando, parecia um foguete

Só não estourei meu côco pois tava de capacete

 

Me alevantei, o dono da mula gritando

O povo em volta tudo olhando e ninguém pra me socorrer

Fugi mancando e a multidão se amontoando

Em coro tudo gritando: "Baiano, cê vai morreêeê !"

 

Depois desse sofrimento, a maior desilusão

Pra aumentar o meu lamento, foi-se embora meu jumento

E me deixou c'as prestação

E hoje eu tô arrependido de ter feito imigração

Volto pra casa fodido, com um monte de apelido

O mais bonito é cabeção!

Composição: Bento Hinoto e Dinho.

Ao fazer uma análise dessa música junto aos alunos, o professor pode iniciar expondo as razões econômicas que incentivaram a maior parte das migrações do Nordeste para o Centro-sul do país (Tava ruim lá na Bahia, profissão de boia-fria/ Trabalhando noite e dia, num era isso que eu queria/ Eu vim-me embora pra "Sum Paulo").

Em seguida, pode ressaltar as péssimas condições em que essas migrações são realizadas (Eu vim no lombo dum jumento com pouco conhecimento/ Enfrentando chuva e vento e dando uns...).

No final, o personagem da música, após se enquadrar nos padrões consumistas dos grandes centros urbanos e depois de se “envolver em um acidente”, resolve voltar para a Bahia, sua terra de origem. O que fica implícito são as poucas oportunidades e as difíceis condições de vida que esses migrantes geralmente enfrentam nos grandes centros, em função da baixa escolaridade e do baixo grau de instrução.

Isso é demonstrativo do “retorno” que assinala um novo fluxo migratório consolidando-se em direção ao Nordeste. Explique a seus alunos que, apesar disso, o número de pessoas que abandonam regiões do semiárido nordestino em busca de emprego e melhores condições ainda é elevado.

No final, o professor pode realizar um debate envolvendo a mensagem trazida pela música e solicitar a produção de um texto dissertativo sobre o tema.


Por Rodolfo Alves Pena
Graduado em Geografia

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