O abolicionismo e o gabinete da conciliação

Estratégias de ensino-aprendizagem

O fim da escravidão revela a hegemonia política presente no Segundo Reinado.

Ao adentrar o cenário político constituído no Segundo Reinado, muitos alunos logo reconhecem a dicotomia existente entre os partidos Liberal e Conservador. Pela própria ideia oferecida pelos nomes, os alunos se tomam pela falsa impressão de que os conservadores eram favoráveis à manutenção da ordem, enquanto os liberais desejavam um conjunto mais impactante e significativo de transformações.

Para desconstruir essa primeira noção, sugerimos que o professor faça um breve trabalho relacionando o cenário político da época com a temática abolicionista. Inicialmente, converse com os alunos sobre as impressões que eles teriam sobre a existência dos partidos liberal e conservador. Na medida em que manifestam sua opinião, interrogue sobre o possível comportamento que cada uma dessas tendências políticas teria em relação ao fim da escravidão no Brasil.

Após registrar algumas dessas opiniões, relate que ao longo do Segundo Reinado houve a alternância dos liberais e conservadores no poder. No caso, através do gabinete da conciliação, Dom Pedro II realizava uma distribuição de cargos capaz de agradar os interesses dos partidos da época e evitar possíveis dissidências que desestabilizariam o seu governo. Com isso, soma-se à noção dos alunos sobre os partidos uma prática política que marcou o Brasil Império.

Ultrapassado esse primeiro diálogo, exponha aos alunos a seguinte tabela encontrada no livro “Panorama do Segundo Império”, escrito pelo historiador Nelson Werneck Sodré:

 

 


Fonte: SODRÉ, N. W. Panorama do Segundo Império. Rio de Janeiro:
Graphia, 1998. [Adaptado].

Por meio das informações desse quadro é possível criar certa estranheza aos alunos que acreditavam que a abolição seria um projeto exclusivamente liberal. Através das informações dispostas, vemos que as medidas que contribuíram para o fim da escravidão no Brasil partiram de representantes de ambos os lados. Com isso, cabe questionar por qual razão isso acontecia.

Nesse instante, o professor deve ressaltar que a origem social de liberais e conservadores era a mesma. Afinal de contas, apenas os membros da elite nacional tinham a oportunidade de ingressar na carreira política. Dessa forma, apesar de estarem distintos pelos nomes, liberais e conservadores tinham a mesma opinião sobre uma grande parcela das questões políticas da época.

Paralelamente, vale lembrar que na segunda metade do século XIX a utilização de escravos já não era algo interessante para nenhum desses partidos. Desde 1850, com a Lei Eusébio de Queiroz, a proibição do tráfico negreiro fez com que o preço do escravo se elevasse muito. Assim, a importação da mão de obra assalariada dos imigrantes europeus se tornava bem mais interessante para os latifundiários representados por liberais e conservadores.

Por meio dessa análise, pautada em eventos que marcaram o Segundo Reinado, o professor mostra aos alunos que a origem social e os interesses dos partidos liberal e conservador eram os mesmos. Ao mesmo tempo, revela que a escravidão só foi extinta no momento em que ela não mais suportava o interesse dessa mesma elite. Temos assim uma aula centrada em questões significativas para aquela época.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola

 

 

 

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