Uso da música “Drama de Angélica” em aula de Química
Estratégias de ensino-aprendizagem
O uso da música “Drama de Angélica” em uma aula de Química pode ser muito enriquecedor, pois aborda conceitos de várias matérias e que estão ligados ao cotidiano dos alunos.
O uso da música em aulas de Química tem se mostrado uma excelente ferramenta para despertar o interesse dos alunos que estão tão mergulhados nessa era tecnológica. Equipamentos eletrônicos, como o próprio celular, muitas vezes atuam como concorrentes com o ensino que é dado em sala de aula. Por isso, o professor precisa encontrar meios que atraiam a atenção dos alunos e incentivem-nos a raciocinar e a participar da aula, absorvendo de fato o conhecimento em discussão.
Entretanto, o uso de música no ensino de Química não deve visar à simples memorização de conteúdos, como ocorre em muitos casos. O principal objetivo deve ser estreitar o diálogo entre os conhecimentos científicos e os saberes do cotidiano. Fazer os alunos entenderem que a Química é uma ciência bastante presente na vida diária deles.
Isso pode ser feito por meio de temáticas com possibilidade de problematização, tais como aquecimento global, combustíveis fósseis, poluição, uso de medicamentos, de drogas, de produtos de limpeza, aspectos relacionados com a água e assim por diante. Para tanto, a música escolhida deve ajudar a desmistificar o conceito que geralmente os alunos têm da Química, que a consideram como uma “vilã”, tanto no sentido de destruir o meio ambiente e fazer mal à saúde quanto no sentido de ser uma ciência que só exige que fórmulas e símbolos sejam memorizados.
Obviamente, isso exigirá uma maior preparação por parte do professor, pois demandará horas de pesquisa e formulação de um plano de aula bem planejado. Mas tenha certeza de que enriquecerá bastante sua aula e contribuirá para que os alunos apropriem-se de verdade do conhecimento, levando-o para sua vida diária. Lembre-se de levar em consideração fatores tais como a letra da música, possibilidades de analogias, o contexto social dos seus alunos, bem como aspectos econômicos, tecnológicos e culturais que podem ser abordados.
A fim de exemplificar e também servir de aporte para aulas de Química, neste artigo foi escolhida a música “Drama de Angélica”, de 1949, da dupla Alvarenga e Ranchinho, sendo que a letra foi escrita pelo próprio Alvarenga.
É uma música que, apesar de contar uma história trágica de uma moça condenada por ter uma saúde fraca, também apresenta aspectos que divertem.
Ela é um grande exemplo de obra poética que usa o recurso de jogos de rimas proparoxítonas. Já aí temos um aspecto interdisciplinar, podendo até mesmo ser uma aula com participação de outros professores, como o(a) professor(a) de Português.
A letra dessa música pode ser utilizada para contextualizar o ensino e dar maior significado aos conceitos ou conhecimentos por ela veiculados, dos quais falaremos melhor adiante neste artigo.
O professor pode iniciar distribuindo a letra da música para os alunos e tocando-a, pedindo antecipadamente que eles sublinhem palavras que não conhecem (provavelmente serão muitas!) para serem esclarecidas na posterior discussão da letra e entendimento do que ela transmite.
A música “Drama de Angélica” está transcrita a seguir:
"Ouve meu cântico quase sem ritmo Amei Angélica mulher anêmica Em noite frígida fomos ao Lírico Fomos ao médico de muita clínica Mandou-me célere comprar noz vômica Não tendo escrúpulo deu-me sem rótulo O dia cálido deixou-me tépido |
Tomou num fôlego triste e bucólica O pai de Angélica chefe do tráfego Morreu Angélica de um modo lúgubre Foi feita a autópsia todos os médicos E sobre o túmulo uma estatística "Cá jas Angélica
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Entre os principais aspectos que podem ser abordados nessa música é o uso de substâncias químicas na fabricação de medicamentos. A música aborda bem que o papel da Química, nesse caso, seria o de salvar uma vida, pois essa ciência visa proporcionar qualidade de vida. Mas em virtude de erros humanos mostrados na letra da música, isso levou a uma tragédia, o que mostra a importância do conhecimento por parte dos alunos sobre as substâncias que ingerem e de como o conhecimento químico pode ajudá-los nesse ponto. Mostra também que o mal que a Química pode causar à saúde e ao meio ambiente vem da desinformação ou do mau uso desses recursos e conhecimentos pelo ser humano.
O professor pode pedir que os alunos identifiquem os nomes de alguns compostos mencionados e determinem de que composto se trata. Alguns exemplos são a “noz vômica” e o “ácido cítrico” indicados para Angélica pelo médico. Além disso, há o “ácido fênico” e o “ácido prússico” que foram vendidos pelo farmacêutico que trocou a fórmula.
O professor pode aqui adentrar mais na composição desses ácidos, as suas fontes e finalidades de uso. Por exemplo, o ácido fênico é o fenol ou hidroxibenzeno, substância orgânica corrosiva, irritante das mucosas, tóxica e que, se for ingerida, inalada ou absorvida pela pele, pode causar queimaduras severas, afetar a parte central do sistema nervoso, figado e rins, e ser fatal, como foi no caso de Angélica.
Já o ácido prússico é o ácido cianídrico (HCN) usado na produção de plásticos, acrílicos e corante, mas libera um gás extremamente tóxico que foi até mesmo usado em câmaras de execução sistemática de prisioneiros em campos de extermínio na Alemanha Nazista durante a Segunda Guerra Mundial.
Ao falar sobre esses compostos, o conteúdo de funções orgânicas e as diferentes propriedades desses compostos podem ser abordados.
Outros conceitos que envolvem Química, Biologia, Física e Português podem ser abordados, tais como o que seriam medicamentos do tipo “terapêutica dose alopática”, o que é o “ferro ágate”, por que o medicamento é chamado de “droga”, qual é a diferença entre “côncavo e convexo”, o que são “Os Lusíadas”. Esses aspectos podem ou não ser abordados em sala de aula de acordo com o objetivo e com a situação de cada professor.
Por Jennifer Fogaça
Graduada em Química