Saudade em linha reta

Trabalho Docente

“Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!” Vinicius de Moraes.

A palavra saudade como vocábulo existe apenas na Língua Portuguesa e é tido como um dos mais difíceis de definir e de traduzir, em virtude de sua riqueza semântica. Na gramática, é um substantivo abstrato. Na prática é concreto. Não podemos vê-la, mas podemos senti-la.

A palavra “saudade”, em português, é considerada como a sétima mais difícil do mundo para se traduzir. Saudade veio do latim solitas, solitatis, por meio das formas arcaicas soedade, soidade e suidade. Solitas, em latim, significa “solidão”, “desamparo”, “abandono”, é o desejo de um bem do qual se está despojado; são as lembranças almejadas, carinhosas, de pessoas ou coisas distantes ou suprimidas, acompanhadas do desejo de tornar a vê-las. Sentimos saudades do que já aconteceu, de quem nos abandonou e de quem nós deixamos. Sentimos saudades dos que partiram, de quem não nos despedimos com gestos certos, e daqueles que não tiveram como nos dizer adeus. Há vários tipos de saudade: de alguém que morreu, de quem amamos, de um amigo, de vidas unidas e agora divididas, dos nossos alunos, de lugares, de viagens, do país de origem, da infância, da juventude, de animais de estimação...

A saudade deve servir como reminiscência. Não nos impedir de continuarmos vivendo em plenitude. Porque sabemos que não controlamos a vida, mas temos controle sobre a qualidade dessa existência. São os momentos positivos que nos ajudam a nos manter firmes e seguros.

De acordo com Jurga Ziliskiene, “embora as definições sejam aparentemente precisas, o problema é refletir, com outras palavras, as referências à cultura local que os vocábulos originais carregam. Provavelmente você pode olhar no dicionário e (...) encontrar o significado, "mas, mais importante que isso, são as experiências culturais (...) e a ênfase cultural das palavras.”.

De onde veio realmente o vocábulo saudade? Do latim solitate (soledade, solidão)? Do árabe saudah (profunda tristeza)? Dos arcaísmos soydade, suydade? A saudade é companheira da solidão, amiga inseparável da afeição, colo da amizade, às vezes porção de paixão, em muitos acontecimentos momentos de carinho e ternura.

Na gramática, saudade é substantivo abstrato, tão abstrato que só existe na língua portuguesa. Os outros idiomas têm dificuldade em traduzi-la ou atribuir-lhe um significado sucinto: Te extraño (castelhano), J'ai regret (francês) e Ich vermisse dish (alemão). No idioma inglês encontramos várias tentativas: homesickness (análogo à saudade de casa ou do país), longing e to miss (experimentar falta de uma pessoa), e nostalgia (lembrança do passado, da infância). Mas todas essas expressões estrangeiras não definem o que sentimos. Saudade é um portfólio fiel do passado. É a amostra indiscutível de tudo que vivemos e ficou cunhado na alma. Ao confessarmos uma saudade, na verdade, estamos nos certificando de que, conhecemos pessoas e coisas, vivemos situações que foram boas, e serão duradouras em nossa alma. Alimentá-la, é sustentar o espírito e a própria existência.

Na realidade, é que com este vocábulo, registra-se um estado de espírito que outras línguas não exprimem com exatidão, sentimento muito próprio dos que usam o português como língua materna.

Neste final de ano que se aproxima, se revirarmos o baú de lembranças, encontraremos as saudades ali, armazenadas em nossos corações. Impossível ignorá-las. Vamos reservar um espaço para outras que virão. Reavivá-las, porém sem tristezas. Devemos usá-las como apoio, sempre buscando o caminho para o futuro. Aspiramos que as saudades dos acontecimentos passados, façam florir esperanças de uma vida com muitas alegrias e muitas lembranças boas! Feliz Ano Novo!

Por Amélia Hamze
Colunista Brasil Escola

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